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Extravasamento de gel é partícula microscópica mais tóxica do silicone
O implante mamário de silicone pode causar câncer de mama? Pela primeira vez um artigo publicado no Dove Press journal, revista científica da Nova Zelândia, por um grupo de médicos brasileiros, apresenta e descreve uma teoria sobre a possível relação entre os implantes mamários e o câncer de mama, o segundo tipo de câncer mais frequente no mundo e o que mais leva mulheres à óbito.
O estudo foi conduzido pelo médico e pesquisador, Dr. Eduardo Fleury, radiologista e coordenador da equipe de Imaginologia Mamária do IBCC Oncologia, com contribuição do Dr. Dr. Gabriel D’Alessandro, do departamento de cirurgia plástica do IBCC Oncologia e da Dra. Cristiane Nimir, do serviço de patologia de um laboratório especializado em medicina feminina em São Paulo.
No artigo, são mencionadas as complicações relacionadas aos implantes mamários que já recebem muita atenção e são relatadas na literatura médica, como o linfoma anaplásico de grandes células associado ao implante mamário, granuloma da cápsula do implante mamário induzido por silicone (SIGBIC), e a doença do implante mamário. O grupo do Dr Eduardo Fleury descreveu os achados do SIGBIC pela Ressonância Magnética, validada por 13 artigos publicados em revistas científicas com relevantes fator de impacto. As publicações são frutos de um estudo prospectivo realizado no IBCC Oncologia, onde os autores observaram os achados de imagens radiológicas, mamográficas, ultrassonográficas e de ressonâncias magnéticas mamárias de aproximadamente três mil mulheres no IBCC. Foram ainda correlacionados os achados clínicos cirúrgicos e anátomo-patológicos.
Neste estudo inédito, as complicações clínicas dos implantes que resultaram em consequências para as pacientes que se queixavam de dores nas articulações, coceira, endurecimento das mamas, processos inflamatórios e erupções cutâneas, passou a ser uma hipótese de que SIGBIC visto pela Ressonância Magnética poderia ser o marcador diagnóstico para a doença do silicone. Além disto, os estudos discutem a relação entre SIGBIC e BIA-ALCL, partindo do princípio de que a origem dos 2 eram comuns: o extravasamento de gel de silicone. O gel microscopicamente extravasado é o polidimetilsiloxano (PDMS4), a menor e mais tóxica partícula do silicone.
Entretanto, a literatura contém evidências limitadas sobre a possibilidade de implantes de silicone desencadearem o câncer de mama, doença que segundo estimativas do INCA, Instituto Nacional do Câncer, representou o surgimento de 66 mil novos casos em 2020 no Brasil.
“Neste manuscrito, propomos uma teoria em que a resposta imunológica ao extravasamento do gel de implante mamário de silicone atua como um ponto de gatilho para um oncogênese tumoral no tecido mamário. Essa é hipótese é baseada no nosso estudo observacional de alguns casos de câncer na nossa pesquisa, retratado por um caso de carcinoma medular invasivo e indiferenciado em uma paciente com implante mamário de silicone com farta documentação”, explica o Dr. Eduardo Fleury.
Caso
Recentemente, ocorreu um caso de carcinoma de mama envolvendo a cápsula fibrosa do implante. As mudanças no implante mamário foram exuberantes, as queixas e as características de imagem eram muito mais semelhantes ao SIGBIC e eram distintas quando comparadas com um carcinoma indiferenciado típico da mama, segundo o pesquisador. Com base no extenso material diagnóstico do caso, foi proposta a teoria da indução de carcinoma de mama pelo implante, com base em nossas evidências e conhecimento acumulado.
Ainda segundo o médico pesquisador, alguns conceitos foram usados para apoiar esta teoria, sendo: o sangramento de silicone de implantes mamários intactos, a metaplasia, que seria uma adaptação à lesão e precursora da displasia e do câncer, a disfunção das células T na imunidade ao câncer, a presença de células inibitórias no microambiente tumoral (TME) e a morfogênese e bauplan e os conceitos subjacentes ao carcinoma medular. Basicamente, os autores fazem uma analogia do efeito agressivo do silicone no microambiente tumoral. Fato já descrito pela literatura em outras patologias, como no câncer de esôfago e metaplasia de Barret. A exposição do silicone é crônica e permanente, causando agressão na área da formação do tumor.
“Propomos que o processo inflamatório em resposta às partículas de silicone no tecido glandular pericapsular favorece o recrutamento de células cada vez mais jovens, o que pode resultar em metaplasia e displasia. Essa reversa morfogênese pode ter resultado em carcinoma de mama do tipo medular no presente caso”, complementa o médico.
O caso publicado, apesar de simbólico, permite ilustrar de forma didática todos os conceitos empregados na teoria. “Atualmente, temos casos de lesão papilífera, carcinoma ductal in situ e carcinoma invasor que validam a nossa teoria. Estes casos deverão ser publicados em revistas especializadas, sendo que alguns já foram submetidos para publicação”, finaliza o Dr. Fleury.
Ao final do estudo, os autores observaram que das 3.000 mulheres que apresentaram complicações decorrentes do silicone e com o extravasamento, 5% desenvolveram câncer de mama e alguns casos com relação direta com o corpo estranho, por isso, a discussão sobre o tema deve ser estimulada com novos estudos.
O Autor
Dr. Eduardo Fleury: MD e Phd em Radiologia é o primeiro latino americano portador do European Diploma in Breast Imaging (EDBI) – Diploma Europeu em Imagem das Mamas – concedido pela EUSOBI (European Society of Breast Imaging) – Sociedade Europeia de Imagiologia das Mamas. Atualmente ele desenvolve pesquisas na área de diagnóstico por imagem no IBCC.
Em setembro de 2020 publicou O livro “A voz do silêncio: quando a ciência é a inimiga. A saga da Doença do Silicone” conta sua participação na história da descoberta da doença da SIGBIC, sigla que em português se traduz como Granuloma induzido por silicone na cápsula.
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