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Dados do Unaids indicam que, em 2020, 6 milhões de pessoas desconheciam ser portadoras do vírus no mundo
Quarenta anos depois da descoberta da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS) no mundo, muitas dúvidas ainda cercam a doença causada pela infecção do vírus HIV. Apesar de não ter cura, a evolução da ciência ao longo destas décadas permite o controle da carga viral no organismo, impedindo seu progresso e garantindo uma expectativa de vida longa.
Atualmente, cerca de 920 mil pessoas vivem com HIV no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Dessas, 89% foram diagnosticadas e 77% fazem tratamento com antirretroviral. Em 2020, até outubro, cerca de 642 mil pessoas estavam em tratamento, um aumento de mais de 8% em relação a 2018.
Ainda assim, segundo dados do relatório divulgado pelo Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), em 2020, cerca de 6 milhões de pessoas no mundo desconheciam ser portadoras do vírus.
Com o objetivo de desmistificar o assunto e promover a prevenção e o autocuidado no Dia Mundial do Combate à AIDS, lembrado em 1º de dezembro, a infectologista Dra. Anna Claudia Turdo, da Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, esclarece os principais mitos e verdades sobre a doença.
Todos os portadores de HIV têm Aids
Mito. Ser portador do vírus HIV não é a mesma coisa que ter AIDS, que é um estágio avançado da infecção com diminuição grave da imunidade do organismo. Muitos portadores do vírus vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença, caracterizada pelo enfraquecimento do sistema de defesa do corpo, facilitando o surgimento de doenças oportunistas.
A infectologista explica que, ao detectar a contaminação pelo vírus através do teste de HIV, o paciente deve iniciar o tratamento com antirretrovirais (ARVs) e acompanhamento médico a fim de evitar o desenvolvimento da Aids e prevenir infecções secundárias.
Beijo na boca transmite HIV
Depende. O vírus não é transmitido por meio da saliva. No entanto, é válido alertar para o risco de contaminação em casos de uma ferida na boca. “Apesar de raro, é possível entrar em contato com o sangue do parceiro durante o beijo e, nestes casos, é importante ter cuidado”, diz a médica.
Mulheres com HIV não podem engravidar
Mito. Com a evolução no tratamento do HIV, mulheres soropositivas podem engravidar e dar à luz a crianças sem o vírus. Chamada transmissão vertical, a contaminação do bebê pela mãe pode ser evitada quando as gestantes aderem ao tratamento corretamente e ficam sem vírus detectáveis nos exames de sangue (carga viral indetectável).
Dra. Anna ressalta que o Brasil é signatário do compromisso global de eliminar a transmissão vertical do HIV. “Essa é uma das prioridades das entidades de saúde do país e a estratégia adotada pelo Ministério da Saúde tem reduzido consideravelmente o número de casos de crianças contaminadas ao longo dos anos, principalmente com o diagnóstico materno durante o pré-natal.”
Preservativos nas relações sexuais previnem HIV/Aids
Verdade. O preservativo é o método mais acessível e eficaz na prevenção do HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, como sífilis, HPV, gonorreia e alguns tipos de hepatites. “Pessoas com ou sem parceiros jamais devem abrir mão desta proteção. Lembrando que soropositivos com carga viral indetectável não propagam o vírus na população, mas ainda são susceptíveis e transmissores de outras doenças infecciosas”, complementa a infectologista.
Portadores de HIV têm expectativa de vida reduzida
Mito. A especialista do São Camilo reforça que, com a adesão ao tratamento adequado, os portadores de HIV podem apresentar a mesma expectativa de uma pessoa sem o vírus. Ela lembra que a doença não tem cura e, portanto, a prevenção é fundamental.
De acordo com dados do UNAIDS, a mortalidade por HIV teve uma queda de 42% desde 2010. O último relatório da organização aponta que, em 2020, cerca de 37,6 milhões de pessoas estavam vivendo com a doença no mundo, sendo que, desse total, 27,4 milhões tiveram acesso à terapia antirretroviral.
“Os dados indicam que ainda é necessário reforçar o alerta a população sobre os riscos da contaminação, que ocorre principalmente por meio de relações sexuais desprotegidas e compartilhamento de seringas, bem como a importância de realizar testes regularmente”, alerta a médica.
A Dra. Anna destaca ainda a necessidade de combater o preconceito com a doença. “O estigma da pessoa com HIV faz com que muitas pessoas não realizem o teste regularmente, aumentando os riscos de contaminação e atrasando o início dos tratamentos, que são fundamentais para evitar o desenvolvimento da AIDS”, finaliza.